Tuesday, September 12, 2006

Tristes

... é como andamos todos lá por casa. Muito tristes. Sei que há muita gente que não entende. Para muitos é só um cão. Mas para nós não era. Era o membro mais novo da nossa família. Na nossa casa não fazemos distinção entre canídeos, felinos ou humanos. São todos da família.
Para mim, o Igor era de facto especial. Era o meu maior amigo. Como é que eu não posso ficar triste, revoltado e desfeito?
Foi com ternura que constatei que o Igor era adorado por muita gente. Obrigado a todos os que escreveram, telefonaram ou apareceram na loja para demontrarem a vossa tristeza e o vosso pesar. Ajudou um pouco.
No entanto quando chegamos a casa ela não está lá. Quando acordamos ele não está lá. É difícil de perceber como é que num segundo ele estava tão contente a brincar e no outro estava ali, estendido e a esvair-se em sangue. É muito difícil. Sabemos que, com o tempo, isto vai passar ou atenuar-se, mas para já sentimos muito a falta deste pequeno ser.
Podia continuar a escrever sobre a nossa tristeza ou sobre o Igor mas vou parar. Nada que se faça, escreva ou diga o vai trazer de volta. Não vale a pena. Obrigado pelo apoio de todos.

José Santos

Saturday, September 09, 2006

Morreu o Igor

O que fazer quando nos morre um amigo a não ser morrer um pouco também… Nasceu às minhas mãos e toda a sua curta vida esteve comigo 24 horas por dia. O vazio deixado por si é de uma dor imensa.
Era o primeiro a dar-me os bons dias. Tentava secar-me os pés quando eu saía do chuveiro. Aguardava pacientemente que eu o penteasse porque já sabia que o esperava uma guloseima. Era o meu companheiro de brincadeiras com aquela jovialidade de cachorro que nunca perdeu. Era traquinas, matreiro, um reguila. Era tão amado nessas alturas de traquinísses como quando era um doce mimado. Adorava dar lambidelas. Nunca vi cão tão beijoqueiro. Foi amado sempre.
Hoje, depois de um dia normal vinha comigo e com a mãe da loja onde trabalho e onde ele estava todo o dia comigo a fazer asneiras e a distribuir carinhos pelos clientes. Era sempre uma euforia o regresso acasa. Hoje não chegou ao seu destino. Estava sem trela – nunca me hei-de perdoar por isso – pois, tal como a mãe, seguia-me pelo passeio. Só há poucas semanas tinha deixado de andar com a trela. Erro nosso. Vinha a brincar com outro cão pela rua acima quando, sabe-se lá porquê, na euforia da brincadeira, decidiu correr, como nunca tinha feito, para a estrada. O destino tinha-lhe guardado um carro a passar nessa mesma altura a alta velocidade.
Uma pancada forte na cabeça levou aquele pequeno ser em poucos instantes. Morreu a sangrar, nos meus braços. O seu pequeno mundo terminou sem tempo para despedidas. Parou tudo. Ficou o vazio. Não vi mais nada. Só peguei nele ao colo e corri para casa a escassos metros. Quando o deitei numa toalha já não estava comigo. Já não ia brincar mais com a bola de borracha toda roída. Já não ia massacrar a gata com as suas lutas a fingir. Já não me ia morder as sandálias. Já não me ia lamber as mãos ou aninhar-se comigo nas nossas sestas de Domingo.
Vazio.
O que fazer quando nos morre um amigo a não ser morrer também um pouco?
Temos saudades…